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O expressionismo de Munch e de Portinari

O Expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda surgido na Alemanha no início do século XX e que aglutinou artistas de várias tendências, formações e níveis intelectuais. Surgiu como uma reação aos movimentos impressionista e naturalista, propondo uma arte pessoal e intuitiva, onde predominasse a visão interior do artista, a "expressão" , em oposição à mera observação da realidade, a "impressão".


Longe de ser um movimento homogêneo, coexistiu com vários polos artísticos, com uma grande diversidade estilística, como a corrente modernista, cujo maior representante foi Edvard Munch, a corrente fauvista, a cubista, de Pablo Picasso, a surrealista, de Salvador Dali ou a abstrata, de Kandinsky.


A corrente modernista representada pelo norueguês Munch deu a cara ao expressionismo. A obra O Grito é uma das mais famosas do Mundo, sendo considerada tão importante para o mundo da arte como outras obras-primas, incluindo “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci, “Noite Estrelada”, de Van Gogh, “Les Demoiselles d’Avignon”, de Picasso, e “Estúdio Vermelho” de Matisse. Inclusive, em 2012, a obra foi leiloada por US$ 119,9 milhões, tornando-se a pintura mais cara da história a ser vendida em um leilão.



O Grito, 1893, Edvard Munch



O Grito traz a angústia existencial estampada no rosto e no grito de um personagem disforme. Como plano de fundo, um pôr do sol em Oslo, na Noruega. É possível observar, na tela, os traços distorcidos e agressivos, com cores fortes e irreais, de maneira a expressar, emotivamente, a visão individual do artista em relação à realidade.


Todas essas características são típicas do expressionismo, que refletia a angústia e a ansiedade que dominavam os círculos artísticos e intelectuais durante os anos anteriores à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e que se prolongaria até ao fim do período entre-guerras (1918-1939).


Com uma paleta cromática vincada e agressiva, temas relacionados à solidão e à miséria eram uma constante. O seu carácter existencialista, o seu anseio metafísico e a sua visão trágica do ser humano são características inerentes a uma concepção existencial aberta ao mundo espiritual e às questões da vida e da morte. Revela o lado pessimista da vida e a angústia existencialista do indivíduo, que na sociedade moderna, industrializada, se vê alienado e isolado.


No Brasil, Cândido Portinari é a maior referência ao movimento. Filho de imigrantes italianos, sentiu de perto as influências da Primeira Guerra Mundial e o período do entre-guerras.


No início da carreira, Portinari criou uma pintura baseada no povo brasileiro. Produziu uma obra com um caráter nacional e moderno, não apenas pelos temas tratados, mas também por suas grandes qualidades plásticas, o que vai ao encontro das ideias de Mário de Andrade e do movimento modernista brasileiro. Os quadros O Mestiço e Lavrador de Café (ambos de 1934) são exemplos dessa figura do brasileiro retratada por Portinari.



O Lavrador de Café, 1939, Cândido Portinari



Na década de 1940, depois de ver Guernica (1937), de Picasso, no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a admiração de Portinari pela obra do pintor espanhol, presente desde o início da carreira, é renovada. O trabalho de Portinari passou, então, a apresentar mais dramaticidade, expressando a tragédia e o sofrimento humano, e adquiriu caráter de denúncia em relação a questões sociais brasileiras, reveladas em obras como as da Série Bíblica (1942-1944) e Os Retirantes (1944-1945).


Série Bíblica, O Último Baluarte, 1942, Cândido Portinari



Na Série Bíblica, em telas como O Último Baluarte (1942) e O Massacre dos Inocentes (1943), a influência de Picasso pode ser percebida no uso dos tons de cinza, na teatralidade dos gestos, na criação de um espaço abstrato, na deformação pronunciada e no choque constante entre figura e fundo.



Os Retirantes, 1944-1945, Cândido Portinari



Já na Série Os Retirantes, os elementos expressionistas continuam presentes, mas com uma dramaticidade mais controlada. As telas são construídas com pinceladas largas e em composições piramidais, apresentando uma paleta dominada por tons terrosos e cinza, que realçam o caráter da representação. O artista expressa a tragédia dos retirantes por meio dos gestos crispados das mãos e das lágrimas de pedra. Há uma desarticulação das figuras, em um ritmo definido pelas linhas negras, com um fundo que tende à abstração em algumas obras.

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